Cravos

sobre a peça

O ambiente escuro e carregado representava o coração daquele que chamávamos de pecador, mas ele poderia ser como eu ou você, escondido atrás de nossas próprias sombras, de nossos vícios, de nossos delitos, por mais bem guardados que estivessem. A sua alma estava aflita e angustiada até a morte.

Como alguém poderia deixar de beber deste cálice de sofrimento e dor?

Como alimentar a esperança quando a morte é mais forte e as sombrias guardiãs do medo rodeiam nossos corações?

A idolatria e seu grande pedestal figuram o que é de mais sagrado e ao mesmo tempo mais profano, em uma guerra sem fim dentro de nossas vidas. A quem adorar? O que adorar? Só nos resta viver a espera da morte. Talvez ela nos alivie de toda esta dúvida. Uma dúvida que sentimos no fundo de nosso coração e nos aflige por completo.

O que falar da tão desejada imoralidade, sutil, impulsiva, o mal do novo milênio. Sofremos agressões e banalizamos os nossos atos em troca de obscuridade e corrupção.

Por último, a ira, sempre sangrenta e cruel. E a cada encontro, a cada diálogo este impulso violento que fere a nossa alma, se irradia sem precedentes, fortalecendo o sorriso amargo da cólera. Então percebemos que este sorriso somente movimenta internamente nossas lágrimas, não de alegria, mas de desespero, de desesperança.

Como se foge destes pecados, sem termos marcas físicas e vidas despedaçadas? Muitos outros poderíamos citar neste encontro onde a cada instante parecia a vida ceder espaço para a morte sem fim.

Como fundo ouvimos batidas fortes que lembram cravos na madeira, mas apenas podemos perceber se prestarmos bastante atenção. A agonia é mais forte e os gritos de dor sobressaem na vasta escuridão sem fim.

Surge então uma esperança!

Um Homem pregado num madeiro em forma de cruz. Seu sangue escorre lentamente pelo seu corpo. Eis uma luz na escuridão. Mas ela está muito fraca e qualquer suspiro poderá apagá-la. E este Homem em um momento de pura nobreza suspira profundamente. A vela se apaga e seus olhos se fecham. Jesus estava morto. Faz-se silêncio.

Mas as pessoas não estavam entendendo aquele momento. Estava consumado. Seu brado ecoou nos quatro cantos do mundo e atingiu as esferas espirituais. A partir daquele momento a morte não mais teria força contra os homens. O sacrifício. A vitória. A nova vida.

O que estaria passando na cabeça dos discípulos no outro dia após a morte de Jesus? Era o fim da promessa? Eles eram homens como nós, feitos de carne, de ossos e de esperança. Reunidos no mesmo lugar estavam todos eles. Talvez esperando que algum poder sobrenatural os acordassem deste terrível sonho. Talvez Tomé, sentado no canto da sala, começasse a desacreditar no próprio Messias, como nós hoje tão facilmente desacreditamos que Deus existe e nos apegamos às coisas materiais e providências do mundo. Talvez Pedro, com toda a sua formação prática e incisiva tentasse alguma coisa de imediato para que com suas próprias mãos revertesse a história. Como nós, que com as nossas próprias forças tentamos debater contra os temores e angústias da vida moderna e mais uma vez esquecemos de Deus e do seu grande amor. Poderíamos pensar em como se comportava João, o discípulo amado, que estava naquele momento com o seu coração dilacerado. Talvez como poderia estar o seu agora, pedindo por socorro, quase explodindo de tanta dor. Perder uma pessoa amada não é fácil e nós sabemos que não é. E Maria, sua mãe, que apesar de ter ciência de toda esta história, de toda a dor que seu filho passaria, estava agora sentindo uma dor de mãe.: de ter visto seu filho morto injustamente em uma cruz, de ter visto seu filho padecer nas mãos do próprio povo que ele amava. Que momentos difíceis poderiam estar passando naquele dia todos os seguidores de Jesus. Como nós.

Mas Jesus veio para ser solução.

Pode ser difícil imaginar, pois naquela sala todos tinham sentimentos iguais aos nossos: temores, dúvidas, dor, ódio, desespero, desesperança, incertezas. Mas Jesus veio para nos salvar e nos aliviar de todos estes sentimentos… E um milagre, como muitos que Jesus realizou, estava prestes a acontecer.

Qual seria então a sua atitude diante deste fato?



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